quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

o calor do inverno

Está frio.
E eu roo as unhas para me aquecer.
Há muito tempo que não sei o que é um aquecedor.
Por opção.
Desde que deixei de pagar a luz.
E apesar de comer muitas unhas, continuo magro.
Deve ser da fome!
Tenho de sair.
Vou a casa da vizinha fazer o jantar.
É muito pobrezinha!
Já não tem unhas.
E os dedos estão muito caros para comer á semana.
Vou lhe dar das minhas.
Ainda tenho três, nos pés.

o núcleo familiar da nação portuguesa

Temos gatos, temos cães.
Temos porcos, temos mães.
Temos filhos e enteados.
Só não temos feriados.
Salvo os nacionais.
Que não servem imigrantes.
Temos pias e celeiros.
Temos muitos Animais!
Temos quintas, temos pastos.
Temos sapatos gastos.
Só não temos consciência.
Só não ha jurisprudência.
Para acabar com a decência e moral portuguesa.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

evolução na continuidade

Descalça vai para a fonte...
Porque não tem sapatos.
Pés de patos, pés de ratos,pés de chatos.
Vai ela agora e, qualquer dia nós.
Também já foram nossos avós.
Avós colonizadores.
A nós continuadores.
Da colonização.
Que se foda a pátria e a nação.
E a noção da pátria.
E voltai vós, democratas explorados pelo "bem" da lusitânia.
Vai descalça, Leonor.
A sapataria mais próxima fechou.

reciclage

De relações cortadas. Deixei de ter relações.
Não me relaciono a nada que tenha a ver com relações.
Humanas, animais,desumanas, manas, primas e tias.
Por isso cozinho e dou o cuzinho e, isso sabe bem. Não é?
Ás vezes dou comigo a pensar e, isso dá que pensar.
Na sexta-feira estive numa fábrica antiga construída no ano passado.
Estava podre das chuvas do verão.
Liguei a luz ao contador da água e a água ao contador da luz.
Hoje vivo num balneário de pástico com ferrugem.
Amanha na rua, que será por certo, um sítio bem melhor.
Mudei-me para uma casa de palha.
Com o sol endureceu e hoje é de madeira.
Como não sou carpinteiro, não tenho móveis na cozinha.
Vou a pé ao restaurante ao lado de casa.
Fica a 70 km.
Não custa nada, feito de carro.
O meu carro é antigo.
É de vidro mas não corre o risco de se partir.
Foi feito numa fabrica de metais.
Comi uma moeda e caguei o banco de portugal.
Agora estou melhor mas não tenho para onde ir, nem que comer.

domingo, 11 de janeiro de 2009

corpos e dramaturgias

Nesta sociedade moderna e habituada ao pragmatismo da palavra, o valor do corpo torna-se também segredo e a sua expressão e linha dramatúrgica são cada vez mais ignoradas.
Tal como na guerra, o Homem está dividido em dois pontos, o intelecto e a acção, e os dois funcionam em cooperação. Como nem sempre fazemos o que pensamos, e nem sempre pensamos no que fazemos, estes dois elementos tem que ser vistos e analisados um a um. Mas também, porque às vezes pensamos no que fazemos e fazemos o que pensamos, temos que ser objectivos na análise dos dois factores principais das nossas escrituras.
A percepção e consciência das nossas acções são importantíssimas naquilo que vão ser as nossas reflexões, ao mesmo tempo que pensamos, onde estamos, porque estamos, com quem estamos, estamos. E isso é na maioria das vezes, e neste caso em concreto, o fenómeno teatral.
A “teatralização do corpo” não é uma especificidade da arte performativa, mas sim uma necessidade permanente da identidade e criação do mito. E por isso, faz com que sejamos todos/as pequenos/as personagens, aquilo que queremos prevalece sobre aquilo que somos. Mas isto pode ser também uma repressão bruta à expressão dos corpos. Por exemplo, conta-se que num campo de concentração nazi, um prisioneiro de guerra foi obrigado a desenterrar os corpos desfeitos e deteriorados dos seus familiares, sem ajuda de qualquer tipo de instrumento apropriado, é obrigado ao confronto da morte dos seus, oprimindo expressões, sentimentos e palavras de dor por quem havia perdido.
A existência do corpo é tão importante na vida como no teatro, e estes estão na mesma linha de ideias do mistério do ovo e da galinha.
A forma como nos comportamos na sociedade, de formas diferentes, em sítios diferentes e contextos diferentes é reveladora das micro personagens que vos falava há pouco. E o público-alvo é também definidor da nossa performance.
Adequação do discurso ao corpo é a construção de volume e textura da mensagem, tal como, a idade, o tempo e a memória, são a flexibilidade e a geometria do corpo no espaço. Por isso, estes cinco elementos são definidores das acções e relação dos objectos no espaço. Por exemplo, o corpo “jovem” de Hitler, o contexto social, a memória alemã, o tempo em que viveu e as pessoas a quem se dirigiu, foram os elementos principais na construção do seu micro personagem, de macro valor.
...quanto mais próximos estamos do corpo da dramaturgia, mais próximos estamos do corpo da personagem.